MINISTÉRIO
AISHNAVI BRASIL
APRENDENDO COM OS VEDAS
O estudo da nossa tradição é marcado pela presença de muitas mulheres inspiradoras, às vezes pouco estudadas. Aqui queremos trazer um pouco da história de cada uma delas, afim de que possamos espelhar nas suas grandes qualidades e em sua rendição e devoção.
Rukmini: a rainha de Dvaraka
Esposa de Sri Krishna
Em termos de tattva, Krishna é a origem de tudo e todos/as:
isvarah paramah krsnah
sac-cid-ananda-vigrahah
anadir adir govindah
sarva-karana-karanam
“Krishna, que é conhecido como Govinda, o Senhor Primordial. Ele tem um corpo eterno, feliz e espiritual. Ele é a origem de todos. Ele não tem outra origem e é a principal causa de todas as causas.” (Bs 5.1)
Entretanto, existem duas categorias básicas de tattva: vishnu-tattva e shakti-tattva. Krishna é a fonte de todas as formas de Vishnu, começando com Balarama (primeira expansão de Krishna), Vasudeva, Sankarsana, Pradyumna e Aniruddha - tantas expansões no lado energético (Vishnu). Da mesma forma, existem muitas expansões no lado da energia (shakti), e a primeira é Srimati Radharani. Dela expande tantas gopis em Vrindavan, tantas rainhas em Dvaraka e tantos Lakshmis em Vaikuntha.
krsna-kanta-gana dekhi tri-vidha prakara
eka laksmi-gana, pure mahisi-gana ara
vrajangana-rupa, ara kanta-gana-sara
sri-radhika haite kanta-ganera vistara
“As consortes amadas do Senhor Krishna são de três tipos: as deusas da fortuna, as rainhas e as vaqueirinhas de Vraja, que são as principais de todas. Todas essas consortes procedem de Radhika.” (Cc Adi 4.74–75)
De todas as rainhas de Krishna em Dvaraka, Rukmini-devi é a principal. Sobretudo, ela é uma expansão de Srimati Radharani. Todas as qualidades de Rukmini estão presentes em Radharani, embora Radharani manifeste algumas qualidades que Rukmini não possui.
Ao lermos a história de Krishna e Rukmini, seja no livro de Krishna (Krishna: a Suprema Personalidade de Deus), seja no Srimad Bhagavatam, nos deparamos com uma narrativa cativante com romance, suspense, cavalheirismo, aventura e um final verdadeiramente feliz.
Antes de casar-se com Krishna, Rukmini vivia no reino de seu pai em Vidarbha e foi lá que ouviu sobre Krishna pela primeira vez. Rukmini era filha do rei de Vidarbha, e quando sábios e pessoas santas visitavam o palácio real, eles glorificavam a beleza transcendental, a coragem e o caráter de Krishna. Os sábios sabiam que Krishna era a Suprema Personalidade de Deus e, portanto, ficaram satisfeitos em glorificá-LO. E porque Ele estava agindo como governante, os kshatriyas também ficaram satisfeitos em falar sobre Ele. Ao ouvir sobre Krishna, a princesa Rukmini se apegou a Ele (poderíamos dizer que ela se apaixonou por ele). Ela nunca O conheceu, mas apenas ao ouvir sobre Ele, desenvolveu grande fé, atração e amor por Ele e decidiu que Ele seria o marido perfeito para ela.
Nesse sentido, Rukmini coloca em prática as atividades do serviço devocional puro (SB 7.5.23), uma vez que apenas por ouvir sobre Krishna (shravanam) e mantê-lO em sua lembrança (smaranam), falando sobre Ele (kirtanam), se torna rendida (ātma-nivedanam), decidindo que sua vida só teria sentido se vivesse para e com Ele, aos Seus pés de lótus (pada-sevanam), servindo-O de todas as formas possíveis (vandanam, dasyam, sakhyam).
No entanto, seu irmão Rukmi, tendo um posicionamento de inveja e hostilidade para com Krishna e observando que tudo conspirava para a união de Rukmini e Krishna, proíbe a união e arranja o casamento de sua irmã com Shishupala, que também era um inimigo de Krishna.
A princesa Rukmini fica absolutamente abalada com a notícia de que iria se casar com Shishupala e resolve escrever para Krishna a fim de mudar essa situação. Em sua carta, Rukmini pede que Krishna a salve, raptando-a e levando-a consigo no dia de seu casamento. Como era uma prática comum em Vidarbha que a noiva visitasse o templo de Durga antes do casamento, Rukmini sugeriu que Krishna a raptasse nesse momento. Ela escreve:
“Desde que ouvi falar de Ti, meu Senhor, fiquei completamente atraída por Ti. Sem falhar, por favor, vem antes do meu casamento com Shishupala e me leva embora. De acordo com o costume da família, no dia anterior ao meu casamento, visitarei o templo da deusa Ambika. Essa seria a melhor oportunidade para apareceres e facilmente me sequestrar. Se não me mostrares esse favor, desistirei de minha vida jejuando e observando votos severos. Então, talvez na minha próxima vida eu seja capaz de Te obter”. (SB 10.52, resumo)
Temendo ser enganada, Rukmini escolheu um brahmana de confiança como mensageiro para levar sua carta a Krishna, e assim foi feito.
Ao chegar em Dvaraka, o brahmana foi recebido com todos os respeitos por Krishna, que ofereceu Seu próprio trono de ouro para que o brahmana se sentasse. Após tomar ciência do conteúdo da carta, conclui que Rukmini seria um esposa ideal para Ele e rainha para Seu reino: “O Senhor Krishna sabia que Rukmini possuía inteligência, marcas auspiciosas no corpo, magnanimidade, beleza, comportamento adequado e todas as outras boas qualidades. Concluindo que ela seria uma esposa ideal para Ele, Ele decidiu se casar com ela” (SB 10.52.24).
Krishna começou a preparar sua estratégia para raptar Rukmini. O casamento por rapto, chamado de casamento rakshasa, só era permitido entre a camada guerreira na cultura de Krishna. Este tipo casamento é o recomendado para os kshatriyas, pois, atesta a qualidade de guerreiro do noivo, o que certamente era praticado de longa data, já que o mesmo é mencionado no Åg-veda (I.039 e 116), em que Vimada ganha uma consorte em disputa. Muitos são os episódios desse tipo de casamento entre os kshatriyas na literatura sânscrita e, em todos, após o rapto e a derrota da família pelo noivo, há a reconciliação e o consenso entre ambas as partes e a realização das devidas cerimônias nupciais.
No momento oportuno preparou sua quadriga e foi ao encontro de Rukmini, que nesse momento já se encontrava desesperada por algum sinal da vinda de Krishna. Balarama percebendo a movimentação logo compreendeu que Krishna pretendia raptar Rukmini e preparou o exército Yadu para seguir ao auxílio de seu irmão, que havia se dirigido sozinho a Vidarbha.
Ao chegarem em Vidarbha, Krishna e Balarama foram convidados pelo rei Bhishmaka a assistirem à cerimônia de casamento de sua filha e os recebeu com todas as honrarias que um bom rei deveria oferecer. Os cidadãos logo se reuniram diante de Krishna e Balarama, oferecendo-Lhes respeitos e ao olharem Krishna ficaram ávidos por unirem-nO à doce princesa Rukmini e Lhe oferecem orações.
Logo Rukmini, muito bem vestida e ornamentada, sai do palácio em direção ao templo da deusa Ambika. Ela estava acompanhada de sua mãe, uma amiga e a esposa de um brahmana. Todas elas estavam rodeadas de guardas reais e durante todo o percurso, búzios e instrumentos musicais produziam um som belo e auspicioso.
A beleza de Rukmini era tão grande, que os príncipes ali reunidos ficaram tão deslumbrados que desmaiaram, tamanha sua luxúria, desejando-a intensamente, no entanto, a princesa apenas aguardava ansiosamente o momento em que Krishna viria buscá-la.
Mesmo sem nunca ter visto pessoalmente Krishna, ela O reconheceu assim que O encontrou entre os presentes, e Ele, imediatamente e sem preocupar-se com nada, colocou-a em Sua quadriga e foi levando-a para Dvaraka.
Nesse interim, Balarama apareceu com os soldados da dinastia Yadu, que empreenderam uma batalha contra os príncipes liderados por Jarasandha, que pretendiam reaver a princesa.
Após a vitória na batalha, Krishna levou a princesa Rukmini até Dvaraka e lá se casou com ela seguindo todos os rituais védicos, tornando-se em seguida rei da dinastia Yadu em Dvaraka. Os habitantes de Dvaraka estavam muito felizes com o casamento de Krishna e com sua nova rainha. Toda a cidade ficou em festa, cheia de ornamentos e perfume.
Embora tenha havido um pequeno desentendimento entre as famílias em decorrência do rapto, o rei Bhishmaka também esteve presente no casamento de sua filha Rukmini e ficou muito satisfeito que sua bela e honrosa filha tivesse se casado com Krishna, pois era o que de fato queria desde o princípio, a despeito das maquinações de seu filho, dando, então todas as suas bênçãos para um casamento feliz.
Rukmini era a principal rainha de Dvaraka e sempre muito humilde e fixa no propósito de satisfazer a Krishna. É dito que certa vez Narada Muni resolveu provocar Satyabhama Devi, outra esposa de Krishna, pois esta estava muito orgulhosa de sua posição, julgando ser a preferida de Krishna e capaz de controlar Seu coração, enquanto Rukmini permanecia humilde no serviço ao Senhor. Narada Muni, então, provocou Satyabhama dizendo que na verdade o amor real de Krishna seria por Rukmini. Transtornada, Satyabhama aceita a sugestão de Narada Muni de fazer um ritual para que o amor de Krishna por ela aumentasse.
No ritual, ela deveria doar Krishna a Narada e depois obtê-lo de volta trocando-o pelo mesmo peso dEle em joias. Na hora do ritual, por mais que Satyabhama colocasse joias, a balança não se movia. Ela pediu as joias das outras rainhas e a balança continuava imóvel. Narada Muni e Krishna a provocam dizendo que Krishna seria vendido como escravo. Satyabhama desesperada engole seu orgulho e vai pedir ajuda a Rukmini, que oferece orações ao marido e coloca uma única folha de Tulasi sobre a balança. A folha de Tulasi se torna tão pesada que a balança imediatamente pende para o outro lado. Pode-se perceber por esse passatempo que a devoção de Rukmini é mais poderosa que qualquer riqueza.
Muitas são as qualidades de Rukmini devi, as quais sempre devemos meditar oferecendo-lhe reverências. São elas:
1. rucirananam - cujo rosto é encantador
2. hriya, vrida - tímida
3. sati - exaltada, de caráter santo
4. buddhi - possuidora inteligência
5. laksana – possuidora de marcas corporais auspiciosas
6. audarya - magnânima
7. Sila – de conduta adequada
8. sadrsim bharyam - uma esposa ideal
9. devim - a deusa divina
10. asitapangi - de olhos escuros
11. mohinim - encantadora
12. mahati - aristocrática
13. dhira - sóbria
14. kulavati - de boa família
15. laksanabhijna – uma conhecedora especialista de sintomas corporais
16. aradhito – que presta serviço devocional
17. mat-param, atmarpitas - dedicada exclusivamente a Krishna
18. anavadyangim, sobham - de uma beleza impecável
19. sucismita – que sorri docemente
20. vararoha - quadris adoráveis
21. bimba-phala-adhara - lábios vermelhos brilhantes de bimba
22. syama - seios firmes
23. calantim kalahamsa - um cisne real de movimentos com caminhada
24. su madhyamam - cintura bem torneada
25. govinda-hrtamanasa - cuja mente é roubada por Krishna
26. gunasrayam – um repositório de todas as outras boas qualidades
Rukmini é a expansão de Srimati Candravali, a sakhi, ou vaqueirinha, líder do grupo rival em Sri Vrindavan dham. No dia da sua aparição, oferecemos nossos respeitos a ela e esperamos receber sua misericórdia para um dia nos envolver no serviço de Sri Krishna em Sri Vrindavan dham como servas de Srimati Radhika.
Rukmini Dvadashi, ki jay! Rukmini Devi, ki jay! Todas as glórias a Srila Prabhupada!
Bibliografia:
https://voltaaosupremo.com/artigos/historias/o-casamento-de-krishna-e-rukmini/
http://www.girirajswami.com/?p=12724
https://iskconvrindavan.com/2019/05/16/rukmini-dwadashi/
http://nimaipandit.ning.com/profiles/blogs/rukmini-dvadasi-and-mohini-ekadasi
PRABHUPADA, A. C. Bhaktivedanta Swami, Srimad Bhagavatam
Escrito por Gitamrta Devi Dasi e Kalachandji Devi Dasi
Saci Devi
Mãe de Sri Caitanya Mahaprabhu
Mãe ideal, idêntica a ambas Yashoda e Devaki, suas glórias são extensivamente descritas no Caitanya-Bhagavata, no qual se diz ser ela a devoção encarnada, mãe do universo, etc.
Saci era uma mulher educada, filha, esposa e mãe de eruditos e ela demonstrou seu aprendizado em discussões metafísicas que tinha com seu filho precoce.
De acordo com biografistas, ela foi privilegiada em diversas ocasiões por experimentar evidências do status divino de Caitanya, como ouvir o som de flauta vindo da boca do pequeno Nimai, e então ter visão de seu divino poder – e ela não tem seu puro afeto maternal abalado pelas demonstrações de divindade de seu filho. Entretanto, conforme Ele crescia, ela se tornava apta a tomar instruções Dele sobre práticas religiosas, particularmente quando ele a instruiu a respeitar o jejum de Ekadasi, ou aceitar Suas explicações metafísicas quando a consolava pela morte de Sua primeira esposa Lakshmipryia, por mordida de cobra.
É descrito no Caitanya-Bhagavata que Caitanya não lhe concedeu premabhakti por ter ofendido Advaita Acarya, fazendo uso do exemplo para advertir quanto a ofensas cometidas a vaishnavas. Mas novamente seguindo as instruções de seu filho de bom grado, ela pediu perdão a Advaita Acarya e lhe foi concecido prema. Além disso, após a partida de Caitanya para Puri, ela meditaria em como servia seu filho, Nimai, durante a oferenda à deidade de Gopal e teria realísticas visões Dele aceitando a preparação e observando os pratos vazios depois da meditação se sentiria confusa e duvidaria que tivesse preparado as oferendas. Totalmente confusa quanto ao senso de realidade devido à completa rendição ao amor em separação, ela voltaria à cozinha para começar as preparações novamente. Então, Caitanya enviou mensagens por seus associados em viagem a Nabadvipa de que ela não estava insana, mas que Ele realmente estava comendo suas oferendas – tais manifestações físicas em ausência são chamadas avirbhava por Jiva Goswami, e dentre os quatro locais que ocorreram está a casa de Saci Devi.
Traduzido e compilado por Gitamrita Devi Dasi (HdG)
Referências:
1. BRZEZINSKI, Jan. “Women saints in Gaudiya Vaishnavism”. Tradução de Gitamrita Devi Dasi. In: ROSEN, Steven J. (org.). In: Vaishnavi: Women and the Worship of Krishna. Delhi: Motilal Banarsidass Publishers, 1999;
2. KAPOOR, O. B. L. (Adikeshava Das). The saints of Vraja, 2nd edition. Tradução de Gitamrita Devi Dasi. New Delhi, India: Aravali Books International, 1999.
3. KAPOOR, O. B. L. (Adikeshava Das). The saints of Bengal. Tradução de Gitamrita Devi Dasi. New Delhi, India: Radha Press, 1995.
Lakshmi Priya e Vishnu Priya
Esposas de Sri Caitanya Mahaprabhu
Pouco se sabe da primeira esposa de Caitanya, Lashmipriya, a não ser sua morte na ausência de seu esposo e sua identificação com Rukmini, no Gaura-ganoddesa-dipika (45-6).
Quanto a sua segunda esposa, Vishupriya, sabe-se mais em biografias Dele, por ter sido a esposa que testemunhou Sua transformação e evolução até sua partida para a vida de renúncia.
Diz-se que se casou em uma típica e opulenta cerimônia quando tinha treze ou quatorze anos, e ficou sozinha logo depois. Dentre suas descrições nas escrituras depois da partida de Mahaprabhu, está a de uma viúva ideal, que levou uma vida piedosa rigorosamente como esperado até hoje das viúvas da Bengala.
Apesar de não tomar posição de liderança no movimento inaugurado por seu esposo, ela permaneceu ícone e motivo de peregrinação durante aquele tempo. Continuando a viver com e servir sua sogra, Saci Devi, ela aderiu a um alto padrão de austeridade que impressionava os devotos do movimento. No Advaitaprakasa (Capítulo 21), o discípulo de Caitanya, Jagadananda, descreve para Ele as atividades diárias de Vishnupriya (também em SB 4.23.20): ela se levantava cedo todas as manhãs antes do nascer do dia com Saci para se banhar no rio Ganges, mas então permanecia dentro de casa o dia todo, nunca deixando que o sol ou a lua brilhassem sobre ela. Os devotos nunca a veriam, a não ser quando saia para comer, e ninguém a ouvia falar. Ela só comia os restos alimentares de Saci e passaria todo o tempo absorvida na repetição dos santos nomes – tomando o caminho de bhajan de Seu esposo seriamente – enquanto olhava para uma pintura de Caitanya de quando ele ainda não havia entrado na ordem de vida renunciada. É também dito que ela contava cada repetição dos dezesseis nomes de Krishna e então colocara um grão em um pote; ao final do dia, ela cozinharia os grãos ali reunidos como única refeição.
Além do prestígio que tinha entre os seguidores de Caitanya Mahaprabhu, ela tinha uma íntima amizade com Jahnava Devi. Ademais, ela é tida como a inauguradora da adoração a deidade de Caitanya: por ter abandonado comida e bebida após a renúncia Dele até Sua aparição para ela e para Vamsivadanananda Thakur em um sonho no qual lhe dizia para esculpir Sua imagem da árvore margosa sob a qual Saci se sentava para amamentá-Lo; feita a murti, Vishnupriya cantou o seguinte verso: “Aqui está o Senhor da minha vida. Eu finalmente posso vê-Lo. Ele, por quem as flechas do desejo me fizeram queimar e chegar a ponto de morrer.” Esta deidade conhecida como Dharmeshvara Mahaprabhu ainda é adorada por descendentes de seu primo, Madhava Acarya, em Navadvipa onde se mantem como foco central de peregrinação.
Traduzido e compilado por Gitamrita Devi Dasi (HdG)
Referências:
1. BRZEZINSKI, Jan. “Women saints in Gaudiya Vaishnavism”. Tradução de Gitamrita Devi Dasi. In: ROSEN, Steven J. (org.). In: Vaishnavi: Women and the Worship of Krishna. Delhi: Motilal Banarsidass Publishers, 1999;
2. KAPOOR, O. B. L. (Adikeshava Das). The saints of Vraja, 2nd edition. Tradução de Gitamrita Devi Dasi. New Delhi, India: Aravali Books International, 1999.
3. KAPOOR, O. B. L. (Adikeshava Das). The saints of Bengal. Tradução de Gitamrita Devi Dasi. New Delhi, India: Radha Press, 1995.
Sita Takhurani
Esposa de Sri Advaita Acarya
A esposa de Advaita Acarya, Sita Thakurani, foi uma mulher que, como seu esposo, viveu uma longa vida. Parece que depois de se casar com Sita, Advaita se mudou para Santipur. Entretanto, a maior parte das biografias de Caitanya nos dizem que ela estava presente nas cerimônias de seu nascimento e que até era responsável pelo seu nome Nimai. É dito que ela assumiu algumas responsabilidades de liderança após a morte de seu esposo, mas não há muitos detalhes sobre sua maneira de conduzir tal papel.
De acordo com o Premavilas, Sita tinha uma discípula, Jangali, sobre a qual se conta uma lenda interessante. Parece que ela era destemida se engajara na prática de serviço devocional solitário em uma floresta que era repleta de animais como ursos e tigres. Em uma ocasião, o Shal da Bengala estava caçando naquela área e a viu, ficando atraído por sua beleza. Quando ele tentou violenta-la, foi surpreendido ao ver que ela havia se transformado em um homem. O governante, atônito, lhe perguntou se ela era homem ou mulher. Ela lhe respondeu, “Mulheres vêem uma mulher, homens vêem um homem. Mas em tempo algum eu fui homem.” Ele continuou confuso, mandou que um homem a examinasse, e lhe foi dito que se tratava de um homem, mas quando enviou uma mulher, soube que se tratava de uma mulher. Surpreso, compreendeu que Jangali possuía algum poder extraordinário e caiu a seus pés lhe pedindo perdão. Depois disso, ela o perdoou e o abençoou, e ele construiu uma grande residência para ela, na floresta, que ficou conhecida como Jagali Tota.
Traduzido e compilado por Gitamrita Devi Dasi (HdG)
Referências:
1. BRZEZINSKI, Jan. “Women saints in Gaudiya Vaishnavism”. Tradução de Gitamrita Devi Dasi. In: ROSEN, Steven J. (org.). In: Vaishnavi: Women and the Worship of Krishna. Delhi: Motilal Banarsidass Publishers, 1999;
2. KAPOOR, O. B. L. (Adikeshava Das). The saints of Vraja, 2nd edition. Tradução de Gitamrita Devi Dasi. New Delhi, India: Aravali Books International, 1999.
3. KAPOOR, O. B. L. (Adikeshava Das). The saints of Bengal. Tradução de Gitamrita Devi Dasi. New Delhi, India: Radha Press, 1995.
Sri Jahnava Isvari
Esposa de Sri Nityananda Prabhu
A maioria das primeiras gerações das mulheres do Gaudiya Vaishnavismo são relacionadas com os primeiros líderes do movimento. De todas estas mulheres, que não eram tão numerosas, Jahnava, a esposa do associado principal de Caitanya, Nityananda, se destaca. Um número de razões pode ser mencionado para justificar esta proeminência. Ela ficou viúva quando ainda muito jovem. Ela não teve filhos próprios, mas criou seu sobrinho e enteado, filho de Nityananda, Virabhadra (nascido de Vasudha), que ainda não tinha idade para exercer liderança como apropriado para a continuação do movimento. Na ausência de outro líder apropriado, Jahnava assumiu a posição.
Fica claro que ela ganhou o respeito de toda a comunidade Vaishnava e também exercia grande influência sobre seus principais discípulos, Virabhadra e Ramachandra (adotado por ter nascido de uma benção dada por ela para obtenção de dois filhos para Vamsivadanananda Thakur). Ela era conhecida como Isvari, a forma feminina da palavra comumente usada para Deus, Isvara. O termo infere, pelo menos, grande liderança ou controle sobre os outros.
Jahnava e Vasudha eram irmãs, filhas de um brahmana erudito, Suryadas Sarkhel, e sobrinhas de Gauridas Pandit, ambos devotos importantes de Nityananda e Caitanya. As duas foram dadas em matrimônio a Sri Nityananda e Vasudha deu a luz a dois filhos: uma menina, Ganga, e um menino, Virabhadra – sendo Jahnava a responsável por seu desenvolvimento espiritual. Diz-se no Nityananda-Vamsavistara que, ficando órfão antes de receber iniciação de seu pai, Virabhadra saiu a procura de um mestre espiritual. Nesta busca, foi orientado por Sita Thakurani a procurar mais próximo de casa, mas ele não estava convencido de que Jahnava fosse suficientemente qualificada para tanto. Ao voltar para casa, entretanto, viu sua madrasta/tia terminando seu banho, enquanto secava seu cabelo e seu sari escorregou e para esconder sua nudez, ela manifestou dois outros braços para segurar sua roupa (assim como a esposa de Abhirama Thakur, de descendência muçulmana para cessar as ofensas contra ela devido a sua origem, e Hemalata Thakurani, filha de Srinivasa Acarya – contado por Sri Haridas Thakur – também para confirmar sua autoridade como guru). Então, Virabhadra ficou impressionado com esta demonstração de divindade dela e lhe pediu iniciação.
Apesar de sua erudição, ela parece não ter dado aulas públicas sobre as escrituras, mas preferia cozinhar para grandes reuniões de devotos e servi-los, além de fazer adoração às deidades. Sua maior contribuição foi a organização e caráter do Vaishnavismo da Bengala conforme a sofisticada teologia dos Goswamis de Vrindavan, quando presente no famoso festival Kheturi, por volta de 1570, onde teve o papel de aprovar as inovações na prática de kirtana assim como as formulações teológicas sobre a natureza de Caitanya e seu aparecimento, baseado no material que Narottama e Srinivas Acarya haviam trazido de Vrindavan.
Em uma viagem para ver pessoalmente as glórias dos novos líderes do movimento, que seguiam Jiva Goswami, após cometerem ofensa contra ela em uma vila de devotos de Candi, essa apareceu para eles em sonhos dizendo: “Seus estúpidos! Vocês não sabem a verdade sobre aquela que chamaram de mulher brahmana. Ela é a esposa de Nityananda-Balarama, objeto de respeito por mim e adorável a todos. Seu nome, Jahnava Isvari, é extremamente doce. Apenas pronunciando-o, podemos nos livrar das preocupações da vida. Ela é a bem-amada de Nityananda, a encarnação da compaixão; ela voluntariamente distribui devoção amorosa de Krishna para todas as entidades vivas. Qualquer um que adore seus pés de lótus e canta suas glórias será liberado das três categorias de sofrimento”. Ela, então, exige que peçam o perdão dela, o que fizeram e foram convertidos por ela ao vaishnavismo.
Ela é conhecida como expansão de Ananga Manjari, irmã de Radha, por ter posicionado uma imagem de Radha ao lado direito de Gopinath em Vrindavana, onde já havia uma deidade de Radha à esquerda – sendo dito que ela se uniu com aquela no momento de abandonar o corpo. Ela também é identificada com Revati, a esposa de Balarama.
O exemplo de Jahnava mostra a potência dada às mulheres com a oportunidade de auto-realização quando Caitanya instruiu seu principal ‘capitão’ Nityananda para voltar a Bengala e se casar, assim, dando maior legitimidade à vida familiar, grhastra-ashrama. O movimento da Gaudiya sempre defendeu que renunciantes e chefes de família operassem em esferas separadas com diferentes regras.
Traduzido e compilado por Gitamrita Devi Dasi (HdG)
Referências:
1. BRZEZINSKI, Jan. “Women saints in Gaudiya Vaishnavism”. Tradução de Gitamrita Devi Dasi. In: ROSEN, Steven J. (org.). In: Vaishnavi: Women and the Worship of Krishna. Delhi: Motilal Banarsidass Publishers, 1999;
2. KAPOOR, O. B. L. (Adikeshava Das). The saints of Vraja, 2nd edition. Tradução de Gitamrita Devi Dasi. New Delhi, India: Aravali Books International, 1999.
3. KAPOOR, O. B. L. (Adikeshava Das). The saints of Bengal. Tradução de Gitamrita Devi Dasi. New Delhi, India: Radha Press, 1995.
Pishima Goswamini
Há um pequeno templo de Gaura-Nitai em Vrindavana, perto de Banakhandii. As deidades nesse templo foram originalmente adoradas por Murari Gupta,[1] um associado íntimo de Sri Caitanya Mahaprabhu. O nome de Murari Gupta está gravado na base. Há uma história interessante em relação à descoberta das deidades e de sua chegada à Vrindavana.
Depois de Murari Gupta, as deidades foram adoradas por seu irmão e seus descendentes por algumas gerações em Sarkara Rayapura no distrito de Siuri, na Bengala Ocidental. Em um certo momento não havia ninguém mais da linha de descendência de Murari Gupta para servir às deidades. Uma epidemia e o constante castigo da malária obrigou as pessoas da vila a partirem e se assentarem em outra região. A vila desolada se tornou com o passar do tempo em uma floresta.
O templo de Gaura-Nitai ruiu e as deidades ficaram cobertas com o entulho. Os vaqueiros das vilas próximas começaram a usar a região para pastagem. Um vaqueiro, o qual costumava ir à essa floresta para apascentar o gado, notou que todos os dias uma de suas vacas se distanciava do rebanho, ia e parava no local do templo, jorrando leite de suas tetas. Ele falou com os outros de seu vilarejo sobre isso. Eles ficaram perplexos. Para resolver o mistério, eles cavaram no local. Ao fazê-lo, as deidades surgiram. Os habitantes do vilarejo reconstruiram o templo em Siuri e fizeram os arranjos necessários para o serviço às deidades. Depois de algum tempo, Balarama Dasa Babaji, um santo siddha da Orissa, começou a servir às deidades de acordo com uma mensagem que havia recebido Delas num sonho.
Um dia, Candrashashi, uma jovem pertencente à famosa família Mukhodadhyaya, dos senhores de terra de Delagrama, no distrito de Nadiya, veio à Siuri e se hospedou em uma casa próxima ao templo de Gaura-Nitai. Ela se sentiu muito atraída por Gaura-Nitai e desenvolveu afeição maternal por Eles. Ela começou a oferecer-Lhes khira[2] feito com 40 k de leite todos os dias. Um dia Eles lhe disseram em sonho, “Ma, estamos com muita fome e queremos comer khira preparado por você”. Quando ela disse isso a Balaräma Dasa Babaji, ele disse, “As escrituras proíbem a preparação de comida para as deidades por uma pessoa que não tenha sido devidamente iniciada”. Ela, portanto, recebeu iniciação de Balarama Dasa Babaji e ofereceu khira feito por suas próprias mãos. Na mesma noite, ela teve outro sonho, no qual ela via ambos Gaura-Nitai segurando seu ancala[3] e dizendo, “Ma, você não vai embora daqui. Se você for embora, quem vai cozinhar khira para Nós? Além disso, Ma, você é Nossa mãe e somos seus filhos. Como pode os filhos viverem sem a mãe”? Candrashashi, como um boa mas desamparada mãe, amorosamente Lhes defendeu sua impossibilidade de ficar em Siuri indefinitamente e pediu-Lhes que largassem de seu ancala. Mas eles não o largavam. Em um puxão da luta que se rompeu, um pedaço de seu ancala rasgou e ficou na mão de Gaura. Quando ela acordou do sonho, ela viu que o pedaço do ancala estava de fato rasgado. Imediatamente ela foi até Balarama Dasa Babaji e lhe contou sobre isso.
O dia tinha acabado de nascer e a porta do templo ainda não havia sido aberta. Balarama Dasa Babaji foi até a porta e a destrancou. Ambos ficaram surpresos ao ver o pedaço rasgado do ancala na mão de Gaura.
Candrashashi ficou tomada por uma forte corrente de devoção que em um instante a arrebatou de seu apego pelo lar e toda sua glória e opulência. Com a determinação de nunca mais voltar, ela passou a viver no templo e a servir a Gaura-Nitai com afeição maternal.
Uma vez, enquanto cozinhava para Eles, ela começou a menstruar. Uma mulher no período de menstruação não pode cozinhar para as deidades. Então, ela saiu da cozinha e se deitou na varanda em frente de Gaura-Nitai olhando para Eles com completa impotência e lamentação por Eles não poderem comer a preparação dela naquele dia. Enquanto lamentava, viu como num sonho, que ambos Gaura-Nitai vieram a ela e disseram, “Ma! Por que está lamentando? Você é nossa mãe e somos seus filhos. Faça o que uma mãe comum faz nessa condição para seus filhos. Assim, você não cometerá nenhuma ofensa. Vá, tome banho e cozinhe para Nos dar o que comer. Estamos com muita fome. Por isso, você se livrará desse empecilho”. Candrashashi nunca mais teve menstruação.
Candrashashi tinha apenas vinte anos nessa época. Sua estadia sozinha no templo com o Babaji levantou suspeitas nas mentes das pessoas. Elas começaram a difamar ambos. Isso a fazia sofrer muito. Uma noite, antes de ir dormir, ela chorou perante Gaura-Nitai e reclamou de sua situação. Na mesma noite, ela teve um sonho em que Gaura-Nitai amorosamente lançavam Seus braços ao redor de seu pescoço e diziam, “Ma! Vamos à Vrindavana”.
Assim, Candrashashi e Balarama Dasa Babaji Os levaram à Vrindavana. Eles fizeram o trajeto de barco. Quando o barco chegou à Vrindavana, uma senhora devota do distrito de Nadiya, chamada Bhakta estava se banhando no Yamuna. Ela ficou muito feliz ao ver Gaura-Nitai. Ela Os levou consigo para sua casa em Banakhandi. Candrashashi vivia ali muito feliz e servia a Gaura-Nitäi com todo seu coração e alma. Bhakta a auxiliava. Os residentes de Banakhandi chamavam Bhakta de Pishima (irmã do pai). Bhakta chamava Candrashashii de didi (irmã). Portanto, Candrashashi também começou a ser chamada de Pishima.
Gaura-Nitai eram muito inquietos e travessos. Estavam cheios de peças para pregar nas pessoas. Eles sempre precisavam de uma coisa ou outra para satisfazer Seus caprichos e atazanavam Pishima com Suas infindáveis exigências. Quando ela falhava em satisfazer Suas vontades, Eles não hesitavam em ir mendigar para quem quer que fosse.
Gaura-Nitäi não tinham kharaun (sandálias de madeira). Eles não pediram à Pishim por saberem que ela diria, “O que farão com kharaun? Vocês não tem que ir a lugar algum”. Ela não queria que Eles a deixassem nem sequer um minuto. Portanto, Eles esperaram pela chegada de outro (a) devoto(a). No mês de shravana, um senhora devota de Serapura Baguna da Bengala Ocidental veio à Vrindavana para darshana. Ela se hospedou (p. 132) próximo ao templo de Gaura-Nitai, em Cinyakunja.
Um dia, enquanto estava garoando, Pishima estava sentada na varanda do templo. Ela estava puxando a corda do abanador Deles com a mão esquerda e cantando suas contas com a mão direita. Ela ficou com sono. No cochilo, ela viu Nitai sair do templo e ir para o quintal. Gaura O seguiu. Ela gritou, “Gaura-Niaäi! Onde Vocês estão indo na chuva? Vão pegar resfriado”. Ele sentiu como se tivesse tido apenas um sonho. Ela voltou a puxar o abanador e novamente cochilou. Nesse interim, Gaura-Nitai foram até Cinyakunja. Naquela hora, a senhora anteriormente mencionada estava dormindo. Gaura-Nitai sacudiu sua cabeça e disseram, “Levante-se, a senhora não veio aqui para dormir”. A senhora pensou estar em sonho. Ela disse, “Quem são Vocês”? “Nossos nomes são Gaura-Nitai. Somos filhos de Pishima de Banakhandi”. “Por que Vocês vieram aqui”? “Nós viemos lhe dizer que não temos kharaun. A senhora deve nos dar, então. Olhe, Nossos pés estão sujos sem eles”.
A senhora ficou encantada ao ver as belas faces de Gaura-Nitai. Ela nunca havia visto tamanha beleza. Ao acordar, ela ainda estava pensando nos dois meninos e não sabia porque lágrimas estavam correndo constantemente de seus olhos. Nesse estado, ela saiu em busca Deles. Ainda estava chovendo. Ela perguntou a alguém sobre a casa da Pishima em Banakhandi. Ele apontou para o templo de Gaura-Nitai. Ela entrou no templo e perguntou à Pshima, “Essa é a casa de Pishima”? “Sim, essa é a casa de Gaura-Nitai, os filhos dela”, repondeu Pishima e perguntou, “Por que a senhora está chorando”? “Onde estão seus dois filhos? Eu quero vê-lOs”, respondeu a senhora. Pishima disse, “Ah, Eles estão ali”, e abriu a porta do templo.
A senhora ficou surpresa a ver dois meninos exatamente iguais a Gaura-Nitai que vira no sonho parados em sua frente. Ela ficou tomada pela emoção de tal forma que caiu inconsciente no chão. Ao recobrar a consciência, ela relatou seu sonho à Pishima e Pishima lhe contou o que havia visto em seu cochilo. Ambas se abraçaram e continuaram a derramar lágrimas de alegria e amor por algum tempo.
A senhora afortunada apresentou dois pares de sandálias de prata para Gaura-Nitai, as quais Eles continuam usando até hoje.
Outra senhora de Serapura Baguna, chamada Prasannadasi, a qual vivia em Vrindavana, certa vez, viu Gaura-Nitai em um sonho. Ela viu que Eles tinham ido até ela, decorados com todos os tipos de enfeites, e diziam, “Vê, Nós temos todos os tipos de adornos, mas não temos nupura (sinos para os tornozelos). A senhora tem que nos dar”. A senhora ficou tomada de amor e os presenteou com nupura.
Um Babaji que vinha auxiliando Pishima no serviço a Gaura-Nitai em uma noite fugiu com todos seus enfeites de ouro. Na manhã seguinte, quando Pishima abriu a porta do templo, ela ficou chocada ao vê-lOs sem ornamentos. Em sua tristeza e lamentação, quando ela se deitou na varanda de seu templo, ela deslizou em cochilo. Nesse estado, ela disse a Gaura-Nitai, “Meninos! Por que não me contam quem roubou seus ornamentos”? Eles responderam, “Ma, o Babaji que Nos serve é muito pobre. Nós lhe demos os enfeites porque ele nos deu rabari[4] para comer muitas vezes. Não diga nada a ele”.
O que Pishima poderia fazer? Ela não podia comprar enfeites novos porque Gaura-Nitai a fizeram pobre. Ela apenas sorriu e disse, “Muito bem, façam como preferir. Dêem Seus ornamentos para quem quer que Vocês queiram dar. Eu só sei que se Vocês os quiserem de novo, Vocês mesmos os conseguirão de alguém. Já que não têm vergonha de medingar, uma vez que são filhos de brahmanas”.
Uma vez Gaura-Nitai disseram a Pishima em um sonho, “Ma! Deixe-Nos ir em parikrama (circumbular) por Vraja”. Então, no dia seguinte, ela sentou Gaura-Nitai em um palanquinho e começou o Vraja-parikrama com dois vaishnavas, cujos nomes eram Mathuradasa e Visnudäsa. Quando eles chegaram a Mathura, Pishima e Visnudäsa se adiantaram entrando na cidade para fazer compras e deixaram Mathuradasa para trás com o palanquinho. Naquela época, os soldados britânicos estavam alojados nessa cidade. Sua curiosidade foi desperta ao ver o palanquinho coberto com um tecido vermelho. Um dos soldados disse, “O que tem aí dentro”? “Deidades”, respondeu Mathuradasa. “Mostre-nos as Deidades”!
Mathuradasa ficou com medo de que os soldados pudessem fazer algum mal às Deidades. Ele disse educadamente, “Senhor, agora não é hora de Seu darshana”. Os soldados, então, passaram a usar a força. Em seguida, um forte clarão de relâmpago surgiu do palanquinho, o qual turvou sua vista. Eles gritaram, “Ó meu Deus!”, e correram.
Quando Mathuradasa contou a Pishima sobre o ocorrido, ela disse, “Estou feliz em saber que meus filhos estão prontos para se defenderem agora. Então, não preciso mais me preocupar com sua segurança”.
Pishima se banhava na Yamunä três vezes por dia e servia Gaura-Nitai com fidelidade e devoção. Quando atingiu cem anos de idade, não era mais possível para ela servi-lOs. Então, delegou o serviço a Sripada Gopeshvara Gosvami, um descendente de Nityananda Prabhu. Gopeshvara Gosvami era uma pessoa devotada. Sua atitude (bhava) para com as Deidades era do tipo sakhya (amizade). Ele queria servir Gaura-Nitai ao máximo de Sua satisfação de acordo com sua bhava. Porém, o problema era que as Deidades eram pequenas e pareciam mais com Bala-Gauranga e Bala-Nitai (Gauranga-criança e Nitai-criança) invés de jovens. Dessa forma, eles eram apropriados para vatsalya-bhava ou a atitude maternal de Pishima, mas não para a sakhya-bhava ou atitude de amizade de Gopeshvara Gosvami. Ele, então, disse a Pishima que aquelas Deidade de tamanho pequeno não instigavam seu sentimento de amizade e, portanto, ele não poderia servi-lOs com amor e devoção. Pishima se livrou da dificuldade: ela contou a Sri Haridasa-dasa, o autor do Gaudiya Vaishnava Jivana, que ela entrou no templo, segurou os queixos de Gaura-Nitai com suas mãos e Os puxou pra cima. Imediatamente eles assumiram Sua presente forma, a qual é mais alta.[5]
Mas Gaura-Nitai, Os quais estavam acostumados com a afeição maternal de Pishima, talvez não conseguiram Se ajustar imediatamente à atitude e serviço de Gopeshvara Gosvami em amizade. Pishima Lhes dava banho com água morna no inverno. Gopeshvara Gosvami Lhes dava banho com água fria. Dessa forma, eles ficaram resfriados.
Pishima agora morava em um cômodo no primeiro andar do templo e raramente saia dali. Mas sempre que alguma coisa acontecia, a qual causasse descontentamento ou desconforto a Gaura-Nitai, Suas vibrações atingiam seu coração. Ela ficou, assim, sabendo do resfriado com o qual Eles estavam sofrendo. Ela desceu para vê-lOs. Ela notou Seus olhos vermelhos e coriza corria de Seus narizes. Ela limpou-Os com o canto de tecido de sua roupa. Ela também tocou Seus corpos e descobriu que estavam com um pouco de febre. Então, ela chamou Gopeshvara Gosvami e lhe disse com lágrimas nos olhos, “O que você fez? Você deu banho em meus filhos com água fria e Os deixou doentes. Veja que resfriado severo Eles pegaram e como Seus narizes estão escorrendo”. Conforme ela falava, ela lhe mostrava a parte de sua roupa manchada com a coriza de Gaura-Nitai. Gopeshvara Gosvami não acreditou. Pishima muito brava pegou o outro canto de sua roupa e o passou no nariz de Gaura dizendo, “Baba, soe Seu nariz um pouquinho”. Gaura o fez. Novamente coriza saiu de Seu nariz e o templo ficou repleto de um aroma transcendental. Gopeshvara Gosvami caiu aos pés de Pishima com remorso.
Devido à indulgência exagerada de Pishima, Gaura-Nitai Se tornaram um tanto desobedientes, teimosos e arrogantes. Se qualquer pessoa fizesse algo contra Sua vontade no templo, ficavam irritados e não hesitavam em demostrar seu temperamento. Isso aconteceu uma vez no dia de Kujagara Purnimä. Nesse dia, Gaura-Nitai costumavam ser trazidos à varanda e uma lamparina com dez mechas costumava ser acendida na entrada do templo. Porém, dessa vez, Gopeshvara Gosvami não Os trouxera para fora e saira para algum lugar no começo da noite, depois de ter apagado as mechas para economizar um pouco de óleo. Isso enfureceu Gaura-Nitai. De repente, Pishima ouviu um som muito alto e o templo imergiu em escuridão. Gaura havia derrubado a lamparina junto de seu suporte. Pishima compreendeu o que fizera Gaura ficar bravo. Quando Gopeshvara Gosvami voltou, ela disse, “Gopeshvara! Você não levou Gaura-Nitai para a varanda hoje. Além disso, você apagou a lamparina de dez mechas. Veja, quão bravo está Gaura. Ele jogou a lamparina e está sentado no escuro! Por que você age assim”?
Pishima tinha agora cento e seis anos. Ela chamou Gopeshvara Gosvami e lhe disse o dia e a hora em que ela abandoraria o corpo. Nesse dia e nessa hora, ela estava sentada na varanda do templo sem qualquer doença ou indisposição quando ela abandonou o corpo físico para servir Gaura-Nitai e Radha-Krishna em seu corpo espiritual (siddha-deha).
Depois do falecimento de Pishima, Gopeshvara Gosvami teve um sério ataque de varíola. A doença teve um reverso agudo e ele permaneceu inconsciente por dias. Nesse estado, ele viu um mulher de aparência mostruosa que vinha buscá-lo. Nesse instante, Pishima apareceu com Gaura-Nitai. Ao vê-lOs, a mulher desapareceu. Nitai disse a ele destraídamente, “Ah, levante-se! Se você continuar deitado assim, quem vai Nos dar o que comer? Levante-se! Estamos famintos”! Imediatamente Gopeshvara Gosvami recobrou a consciência. Ele pôs uma grande quantidade de catarro de seus pulmões para fora e ficou bem.
Depois dele ter servido Gaura-Nitai com amor de devoção por vários anos, ele desenvolveu um sentimento de decepção. Ele dizia a si mesmo, “Tenho servido a Gaura-Nitai por tanto tempo. Mas o que ganhei com isso? Se tivesse feito bhajana em solidão, teria conseguido algo”. Então, designou outra pessoa para servi-lOs e seguiu para Kusuma-sarovara para fazer bhajana.
No terceiro dia, à meia-noite, quando ele estava sentado no beira do belo lago chamado Kusuma-sarovara, debaixo de uma árvore bakula, absorto em bhajana, ele viu uma luz, muito suave para os olhos e ao coração, surgindo do meio do lago. Vagarosamente a luz se aproximou. Em poucos instantes ele viu Gaura-Nitai pessoalmente em pé na sua frente sob a árvore. Eles disseram, “Dada! Por três dias não comemos ou bebemos nada. Por que você partiu? Não vai mais voltar para Nós”? Que objeção ele poderia ter em voltar para Eles, uma vez que agora obtivera o que desejara?
[1] Nota da tradutora: Muräri Gupta possuía um diário sobre o Senhor Caitanya em Navadvipa. Além disso, desde sua infância era devoto do Senhor Ramachandra, cuja forma lhe foi mostrada por Caitanya Mahaprabhu, O qual lhe disse que ele era uma encarnação de Hanuman. Quando Lhe pediu para adorá-lO em deidades de Gaura-Nitai, o Senhor Caitanya lhe disse que fizesse deidades de acordo com seu humor devocional. Assim, ele teve essas deidades feitas em neem com três características especiais: elas estão com os pés na posição de tri-bhanga de Krishna-Balarama; suas mãos estão em posição de mudras de Rama-Lakshmana lançado flechas e dando bençãos; e seus cabelos estão presos em um topete assim como Sri Caitanya e Nityananda em Seus passatempos em Navadvipa (Cf. Rajasheekhara däsa Brahmacari, The Color Guide to Vrindavana. The City of Over 5,000 Temples, p. 62);
[2] Um alimento líquido feito de leite, arroz e açúcar.
[3] A parte solta do sari que fica pendurada sobre o ombro de uma mulher.
[4] Um doce delicioso preparado com leite grosso e açúcar.
[5] Gaudiya Vaishnava Jivana, parte II, segunda edição, p. 169;
Traduzido e compilado por Gitamrita Devi Dasi (HdG)
Referências:
1. BRZEZINSKI, Jan. “Women saints in Gaudiya Vaishnavism”. Tradução de Gitamrita Devi Dasi. In: ROSEN, Steven J. (org.). In: Vaishnavi: Women and the Worship of Krishna. Delhi: Motilal Banarsidass Publishers, 1999;
2. KAPOOR, O. B. L. (Adikeshava Das). The saints of Vraja, 2nd edition. Tradução de Gitamrita Devi Dasi. New Delhi, India: Aravali Books International, 1999.
3. KAPOOR, O. B. L. (Adikeshava Das). The saints of Bengal. Tradução de Gitamrita Devi Dasi. New Delhi, India: Radha Press, 1995.
Ma Yashoda
Sri Krishnaprema (Ronald Nixon) nasceu em 10 de maio de 1898 em uma família religiosa da Inglaterra. Ele obteve bacharelado com honra em literatura inglesa da Universidade de Cambridge. Sua inclinação religiosa era percebível mesmo quando ele era um aluno. Depois de obter o diploma, se aplicou seriamente no estudo do Budismo, Cristianismo e Teosofia. Mas, quando a Primeira Guerra se iniciou, ele se alistou na Força Aérea Real.
Quando as formações alemãs estavam invadindo a Bélgica ocupada e se preparando para um novo ataque, a FAR foi ordenada a bomboardeá-las. Um grupo de pilotos incluindo Nixon voou em seus aviões lançadores de bombas em direção à Bélgica. Porém, os aviões alemães estavam cautelosos. Eles perseguiram os aviões da FAR. Todos os aviões da FAR foram abatidos e seus pilotos mortos. O destino de Nixon teria sido o mesmo, mas pela intervenção de uma força sobrenatural que tomou controle do seu pulso e levou o avião para muito, muito alto e o virou em direção contrária. Conforme o avião virou, ele desmaiou. Quando recobrou a consciência, se encontrava em um hospital militar perto de Londres.
Enquanto convalescia no hospital, várias vezes se sentia num estado semi-consciente no qual alguém dizia para ele, “Sua vida foi salva for uma força sobrenatural. Você pode ir à Índia procurá-la”.
A força sobrenatural não apenas lhe salvara a vida, lhe dera um novo rumo. Ele começou a procurar uma oportunidade de ir à Índia e mergulhar nos segredos do divino ou do sobrenatural. Providencialmente, Dr. Jnanendra Cakravati, vice-chanceler da Universidade de Lucknow, estava no momento em Londres. Ele estava procurando por uma pessoa adequada para o posto de conferencista em inglês para a universidade. Ficando muito impressionado com Nixon, não apenas por seu brilhantismo e estudos, mas também – e talvez especialmente – por seu interesse em filosofia, religião e cultura indianas. Ele ofereceu a posição ao Nixon com muita satisfação.
Nixon ingressou na Universidade de Lucknow. Ele morava com o Dr. Jnanendra Cakravarti e sua esposa, Monika Devi. Monika Devi era uma senhora altamente erudita e de cultura. Ela era também profundamente religiosa. Ela ficou impressionada com a sinceridade de objetivo de Nixon e sua natureza cordial. Ela demonstrou toda sua afeição para com ele e passou a tratá-lo como filho. Ela o chamava de “Gopala”. Nixon a chamava de “Ma”.
Nixon continuou sua busca pelo Divino. Uma vez que estava interessado no Budismo, ele aprendeu pali e leu os tratados da religão budista no original. Ele também praticava meditação de acordo com esses. Mas isso não lhe dava satisfação. Portanto, se voltou ao Vedanta. Ele aprendeu samskrita e estudou as Upanishads, a Bhagavad-gita e o Srimad-Bhagavatam. O resultado foi que ele se voltou cada vez mais e mais para Krishna e o aceitou como seu ishta, ou seja, o Senhor que ele adorava e amava. Isso estava certo de acontecer devido a sua inteligência penetrante e seu profundo insight espiritual.
Mas o fato mais importante que finalmente o voltou aos pés de Krishna foi a companhia de Monika Devi. Exteriormente Monika Devi era uma senhora super moderna. Ela tinha viajado com seu esposo para a Europa, América e alguns outros países. Ela era bem familiarizada com a etiqueta ocidental. Em reuniões sociais e festas em sua casa, as quais eram uma característica regular da vida social de seu esposo, a maneira com a qual ela fazia o papel de anfitriã, indo de mesa em mesa, rindo e contando piadas e fazendo a festa fluir com suas repostas cintilantemente argutas, qualquer pessoa facilmente a confundiria com uma senhora ocidental. Mas ela tinha uma personalidade mística, a qual enganava os olhos das pessoas comuns, acostumadas à superfície da aparência. Era possível ter um vislumbre de sua real personalidade pela maneira com a qual ela reagia em kirtanas bengalis ou bhajanas hindis, especialmente relacionados às lilas de Krishna. Ela os ouvia com ternura surpreendente e lágrimas corriam constantemente por seu rosto. Em tais momentos não podia-se evitar pensar que ela era uma habitante do profundo, uma cidadã de um mundo completamente diferente.
Seu eu verdadeiro não poderia passar desapercebido pelos olhos perspicazes de Nixon. Ele observou que em festas em sua casa, ela repentinamente desaparecia e se retirava para seu quarto. Ele queria saber o segredo desse desaparecimento inesperado.
Um dia, havia uma festa especial em sua casa. No meio da música que estava tocando, Nixon viu que ela subitamente se apressou para seu quarto. Ele silenciosamente a seguiu de uma distância. Quando ele espiou em seu quarto, ele viu que ela estava sentada num canto, imóvel e em transe. Quando ela voltou ao normal, depois de cerca de meia hora , seus olhos estavam marejados e uma paz inconcebível parecia radiar de seu rosto. Nixon disse, com as mãos postas como alguém que cometera uma ofensa, “Ma, seu Gopala secretamente espiou seu tesouro secreto hoje. Mas não tem o filho nenhum direito de reclamar o tesouro de sua mãe? Por que a senhora o manteve escondido dele por tanto tempo”?
Afetuosamente pegando seu queixo, ela disse, “Uma vez que você já espreitou, vou lhe contar tudo. Mas não agora”.
No dia seguinte, ela o chamou em seu quarto, quando ninguém estava em casa, e disse, “Gopala, você sabe que subjacente ao corpo há a atma. Quando a atma é desperta, a pessoa se tranforma completamente. Então, ele chega a parama-atma, Sri Bhagavan e abraça Seus pés. Isso começou a acontecer comigo”.
Ela continou, “Você sabe que meu esposo não é um educador comum, mas também um filósofo e um líder teosófico. Eu também me interessei pela teosofia. Mas ela não nos satisfez. Então, ambos nos voltamos ao Vaishnavismo. Eu fui à Vrindavana e tomei iniciação de Acarya Sri Balakrishna Gosvami do templo de Radha-ramana. Desde então, tenho ficado absorta em Krishna-prema-sadhana. Eu quero manter meu sadhana como um segredo bem guardado. Mas Krishna é tão travesso que vez ou outra Ele me arrasta para próximo Dele quando quer que deseje. Nessas ocasiões, uma luz emana de Seus pés, a qual me faz perder a consciência de meu corpo e do mundo exterior. Eu não faço nada. É Ele que me arrasta e me afoga no oceano de Sua presença e companhia ambrosíacas”.
O coração de Nixon inflamou-se com uma nova esperança e luz. Ele disse, “Ma, por que a senhora não me coloca também no doce caminho de Krishna-prema”?
Ma disse, “Você pode certamente dar o primeiro passo no caminho de Krishna-prema, porque já está desiludido com o Budismo e seus estudos das Upanishads e da Bhagavad-gita lhe deixaram familiarizado com os princípios básicos do hinduísmo”.
Nixon começou seu bhakti-sadhana sob a orientação de Monika Devi.
Logo depois, Jnanendra Cakravarti se mudou para Varanasi como vice-chanceler da Universidade Hindu de Benares. Nixon não podia continuar na Lucknow. Ele também aceitou a posição de professor de inglês na Universidade Hindu de Benares com um salário muito inferior ao que ele estava recebendo na Lucknow.
Porém, nenhum argumento poderia mudar sua decisão. Ele assumiu o cargo na universidade. Ele achou a atmosfera religiosa de Varanasi muito mais adequada para ele e seu bhakti-sadhana e sob a orientação de Monika Devi continuou sem pertubações.
Um dia, ele disse a ela, “Ma, eu decidi tomar vaishnava sannyasa”.
“É uma boa idéia”, disse Ma.
“Eu também decidi tomar sannyasa diksha da senhora”.
“Sou uma senhora de família. Como poderia iniciá-lo em sannyasa”?
“Não sei nada sobre isso. Mas a senhora terá de me dar sannyasa diksha”.
Ma permeneceu em silêncio por algum tempo, então, disse, “Tudo bem, eu lhe darei sannyasa diksha”.
Ela foi a Vrindavana e obteve primeiramente sannyasa diksha de Acarya Sri Balakrishna Gosvami e, então, a deu a Nixon. Depois de sannyasa, ela recebeu o nome de Yashoda Ma, Nixon foi nomeado Sri Krishnaprema. Quem poderia acreditar que Monika Devi, nascida e criada em colo de luxo, uma aristocrata até a ponta dos dedos, a qual visitava a Inglaterra a cada dois anos, havia se tornado uma sannyasini e rapado a cabeça? De fato, ela era uma ‘lady’, a qual tinha que ser vista para se acreditar. E Krishnaprema não era uma surpresa menor. Ele foi talvez o primeiro europeu, o qual se tornara um vaishnava, a trocar suas roupas européias pelas roupas açafroadas, usando mala de tulasi e colocando a tilaka amarela em forma de U na testa indo até quase todo o nariz.
Depois de algum tempo, Jnanendra Cakravarti abandonou o corpo. Isso marcou o começo de um novo capítulo na vida de Yashoda Ma. Ela se retirou para os Himalayas com Krishnaprema e sua filha, Moti Rani, e estabeleceu um ashrama com um templo em Mirtola, umas dezoito milhas de Almora. O lugar ao redor do ashrama se chamava Uttara Vrindavana. No templo do ashrama, foram instaladas belas deidades de Radha e Krishna. Nos primeiros dias, um pujari e um cozinheiro brahmana foram empregados. Mas, mais tarde, Krishnaprema mesmo se tornou o pujari e o cozinheiro. Ambas as atividades eram feitas por ele com toda a maneira ortodoxa ritualística. Ele também coletava as provisões em medincância.
A aderência de Krishnaprema às práticas da ortodoxia vaihnava era conhecida. Uma vez, um cientista e amigo bengali disse a ele provocativamente, “Se minha avó viúva seguisse todo esse procedimento ritualístico eu poderia entender. Mas você teve uma formação tão diferente. Lá em seus dias de Cambrigde, você deve ter comido um bom bocado de carne. Como é que consegue observar tantas restrições ortodoxas”?
Krishnaprema riu e disse, “Eu acredito que qualquer disciplina auto-imposta, externa ou interna, é consideravelmente boa nos tempos atuais, quando todo tipo de restrição social ou individual está sendo descartado. Além disso, esse caminho foi deixado por aqueles que vieram antes de mim e alcançaram a meta. Quem sou eu, acabando de entrar no caminho, para dizer, ‘Eu vou fazer isso e não aquilo; aceito essa disciplina, mas não aquela’? Eu aceito tudo”.
Krishnaprema havia se rendido completamente aos pés da guru e, assim, se abriu para sua graça, a qual descia sobre ele, não como gotas de chuva, mas como torrentes do paraíso. A própria Ma certa vez deu dois exemplos de sua completa rendição a ela. Ela disse, “Quando Gopala começou a querer me aceitar como guru, eu lhe disse, ‘Eu posso apenas aceitá-lo se você prometer que mesmo se não tiver nenhuma experiência espiritual pelo resto de sua vida, você não vai desistir’. Eu sabia, é claro, que não havia nenhuma chance de risco ou falha, se ele me desse sua palavra. Eu apenas queria que ele mantivesse em sua mente que não deve haver nenhuma aceitação de meio-coração, nenhuma condição, nenhuma barganha que ele pudesse ter isso ou aquilo. Ele me deu sua palavra e me aceitou totalmente, como um bebê aceita sua mãe em confiança espontânea”.
A outra ocasião foi um milagre que aconteceu com ele; um milagre que não poderia acontecer se sua rendição à guru não fosse completa.
Um inseto o picou no tornozelo enquanto ele meditava do lado de fora. A picada se tornou putrefaciente e três médicos, os quais se reuniram, não podiam controlá-la. Ele piorou mais e mais até o ponto crítico de ser recomendada a amputação da perna. Foi quando Ma disse, “Ele poderia se curar se parasse toda a medicação e tomasse apenas caranamrita”.[1] Ele aceitou imediatamente, ignorando os receios dos médicos e foi curado milagrosamente.
Quanto às realizações espirituais de Krishnaprema, basta dizer que o pequeno Senhor Bala-Gopala o aceitou como Seu irmão mais velho (Dada). Yashoda Ma tinha afeição maternal para com Bala-Gopala. Ela também amava Krishnaprema como um filho seu. Dessa forma, Krishnaprema era o irmão mais velho de Bala-Gopala. Bala-Gopala não só não tinha nenhuma objeção a esta relação, como aceitava-a alegremente, o que ficou evidente a partir do que aconteceu uma noite.
Uma noite, enquanto Krishnaprema estava dormindo, ele ouviu alguém chamando, “Dada! Dada!”. Com um sobressalto, ele olhou em volta, mas não viu ninguém. Achando que fosse uma ilusão, ele fechou os olhos novamente. Mas de novo ouviu uma doce voz chamando, “Dada!”. Dessa vez, ficou claro que o chamado vinha de dentro do templo.
Mas não havia ninguém no templo, a não ser Thakura (a deidade). Poderia, então, ser o chamado de Thakura? Ele foi ao templo. Novamente ele ouviu, “Dada! Estou sentindo frio. A janela está aberta”.
Uma corrente de choque tomou seu corpo. Rapidamente ele abriu a porta do templo, foi e fechou a janela. Ele cobriu o corpo de Thakura cuidadosamente com um cobertor. Enquanto o fazia, ele disse, “Thakura, Você também sente frio”?
Uma linha de lágrima fluiu pelas bochechas de Thakura!
Krishnaprema ficou petrificado. Ele engoliu seco, “Ha Thakura”!, e chorou. Mas se controlando de alguma forma ele limpou as lágrimas de Thakura com seu bahirvasa (roupa).
Thakura dormiu. Mas não houve sono para Krishnaprema. thakura o havia chamado “Dada”, como se por uma palavra Ele tivesse derramado sobre ele toda Sua ternura. Como seu coração inteligente poderia reter isso? Estava extravazando através de seus olhos na forma de lágrimas.
Havia uma razão pelas lágrimas de Krishnaprema. Mas por que Thakura chorou? Krishnaprema simplesmente lhe perguntara, “Thakura, Você também sente frio”?
Para compreender isso é necessário compreender a real natureza de Thakura. Thakura, em Seu mais profundo íntimo encontra-se amor (prema). Amor, ou prema, é a mais alta rasa (gosto transcendental). Então Ele é chamado Rasa – raso vai sau[2] –, Ele é tanto Rasa como Rasika (o desfrutador da rasa). A mais alta rasa que Ele aprecia é o amor (prema), ou melhor, o serviço amoroso (prema-sevä) de Seu(Sua) bhakta (bhaktin). Portanto, a relação entre Ele e Seu(Sua) bhakta (bhaktin) é completa. Ele fica incompleto sem Seu(Sua) bhakta (bhaktin). Em Seu mais íntimo e real ser, Ele Se realiza completamente em relação de serviço devocional de Seu(Sua) bhakta (bhaktin). Seus siddha-bhaktas O servem diretamente no mundo espiritual, na Vrindavana transcendental. Os sadhaka-bhaktas, os quais ainda não O realizaram completamente, não têm acesso a Ele na Vrindavana transcendental. Mas Thakura, para satisfazer Seu sempre-crescente desejo de saborear o serviço amoroso de Seus sadhaka-bhaktas, desce ao seu plano na forma de Sua deidade. Sua descida na forma de deidade é tanto um ato de graça, como de auto-satisfação. Pois, nessa forma, Ele também Se satisfaz por desfrutar do serviço devocional de Seus sadhaka-bhaktas. Os sadhaka-bhaktas O banham, O alimentam, O adornam e cantam ou dançam perante Ele com amor e Ele aceita esse serviço com amor e se deleita. Ele o aprecia porque tem real anseio por ele.
Sem dúvida ânsia implica em incompletude e o grande Senhor, o qual cria e destrói o universo, o qual é onipresente, onisciente e onipotente, não tem nenhuma ânsia, querer ou incompletude Nele. Mas nessa forma, apesar de saborear Sua aishvarya ou opulência, Ele não desfruta da mais alta rasa que vem do serviço devocional de Seus bhaktas. Para que possa se deleitar dessa rasa, Ele se limita e assume a forma de deidade. Nessa forma sua aishvarya (opulência) é eclipsada por Sua madhurya (doçura) e Ele verdadeiramente sente fome e sede, frio e calor, e anseia por todas essas coisas, as quais Seus devotos Lhe oferecem. Se os devotos dizem ou fazem algo, o qual esteja em conformidade com isso, Ele aprecia ao extremo. Se eles dizem ou fazem algo, o qual não esteja em conformidade com Sua forma, Ele Se sente magoado no mais profundo íntimo e no coração. Krishnaprema O havia magoado por perguntar se Ele também sentia frio e Ele só poderia responder à pergunta adequadamente derramando lágrimas.[3]
Quem poderia compreender melhor o valor das lágrimas de Thakura do que Krishnaprema? Ele rasgou o canto da roupa, com o qual ele secara Suas lágrimas e o colocou em um amuleto de prata, o qual ele usou perto do coração pelo resto de sua vida.
A relação com as deidades do templo só se intensificou com o passar do tempo, por exemplo, houve episódios Delas comerem todo o alimento oferecido a Elas, não deixando remanescentes, ou aparecendo pela manhã com ítens de vestimenta, como jóias, trocadas, ou até falando com ele. Houve um incidente no qual Radharani lhe revelou que uma discípula havia vendido suas pulseiras para ir ao ashrama e lhe pediu que entregasse Suas pulseiras para ela usar.
Ele foi o primeiro ocidental a entrar no templo de Radha-ramana em Vrindavana e causava sensação ao passar os invernos em Vrindavana por ser o primeiro europeu a aparecer com a parafernália vaishnava.
Em 1944, nuvens de tristeza lançaram sua sombra sobre Uttara-Vrindavana. Yashoda Ma abandonou o corpo. Mas ela nunca se manteve longe de seu Gopala, mesmo depois de abandonar o corpo. Naquele dia, quando Krishnaprema retornou ao ashrama depois de cremar o corpo de Ma perto da cachoeira de Dandeshvara, ele estava cansado demais e dormiu até tarde. No final da noite, ele ouviu a vez de Yashoda Ma, “Gopäla, você ainda está dormindo. Se levante, é hora do bhajana”. Depois de uma pequena pausa ele disse, “Gopala, fique tranqüilo, eu sempre estarei perto de você, como fiz antes”.
Krishnaprema se levantou num salto e olhando ao redor com lágrimas nos olhos disse, “Se a senhora está tão perto, Ma, por que não posso lhe ver? Eu lhe verei novamente”? “Não, Baba. Continue seu sadhana. Você chegará perto de mim passo a passo e, enfim, me encontrará na Vrindavana cinmaya (transcendental)”. Assim, Ma sempre se manteve perto de Krishnaprema para orientá-lo mesmo depois de sua morte e Krishnaprema buscou por seu conselho sempre que ele achou necessário. Isso fica evidente com o seguinte incidente: uma vez, depois da morte de Ma, quando Krishnaprema havia ido à Vrindavana, Moterani e Dr. Govindagopala Mukhopaheyaya de Varanasi também estavam com ele, ele recebeu um telegrama de seu velho amigo, o irmão mais velho de Govindagopala, lhe pedindo que fosse até ele em Vaidyanatha Dhama antes de retornar à Mirtola. Quando ele estava debatendo com Moterani e Dr. Govindagopala Mukhopaheyaya se ele deveria ir ou não, de repente ele se levantou e disse, “Espere um minuto”. Ele foi para dentro de seu quarto. Ao voltar depois de algum tempo, disse, “Ma ordenou, ‘Vá imediatamente à Mirtola. Sua presença é necessária’.”
Naquele instante ele partiu para Mirtola. Ao chegar lá, soube que o pujari, a quem havia confiado o serviço a Thakura em sua ausência, havia ido embora. Se ele não tivesse chegado lá naquele dia, Thakura teria tido que jejuar.
Ao visitar Srirangama, ele teve uma maravilhosa experiência. Assim que ofereceu reverências no templo de Srirangama, ele entrou em transe e viu um vasto oceano de luz líquida. Então, havia uma ondulação e incontáveis lótus abriram em suas ondas azuis, uma depois da outra em cada flor apareceu adoráveis Krishna e Radha. Radha sorrindo e Krishna tocando sua mágica flauta. Ele começou a tremer e lágrimas fluiram de seus olhos enquanto via isso.
Ele uma vez disse, “Se quisermos alcançar a meta, o Eterno, temos de colocar o barco no rumo de forma a atravessar para a outra margem”. Seu barco havia agora chegado bem perto da outra margem. Em 14 de novembro de 1965, seu barco chegou a seu destino, a Vrindavana eterna, onde Krishna e Radha deveriam estar esperando por ele impacientemente para dar-lhe um afetuoso boas-vindas. (p. 312) Ele deixou muitos discípulos, ocidentais e indianos, e três livros, Search for Truth, Yoga of Bhagavad-gétä, Yoga of KaThopanishad.
Traduzido e compilado por Gitamrita Devi Dasi (HdG)
[1] A água que toca os pés do(a) guru ou de uma deidade do Senhor. Nesse caso, a água tocada pelos pés de Ma todos os dias.
[2] raso vai sau, rasa hy evaya labdhvanandi bhavati – Taittiriya Upanishad 2.7.1 (BG 14.27, significado) – nota da tradutora.
[3] Para Bala-Gopala, a pergunta do devoto demonstrou que ele não compreendia o nível de interação entre o Senhor e Seu devoto, que Se deixa afligir por frio, fome, sede etc só para receber seu serviço – nota da tradutora.